Antes de responder a esta
pergunta, devemos prestar atenção em tudo o que está ocorrendo no Brasil há
exato 12 anos, o que realmente mudou neste país, tenhamos a certeza de olharmos
com um microscópio, pois somente assim não nos deixaremos enganar por pessoas
que querem se perpetuar no poder.
Pois eu lamento informar, mas no Brasil não
existe democracia. Porque não há separação dos poderes e não funciona o Estado
de Direito. Para quem não sabe, "Estado de Direito" significa que
nenhum indivíduo, presidente ou cidadão comum, está acima da lei.
Vou dar um pequeno exemplo: se um décimo do que
foi publicado nos jornais brasileiros sobre o PT é verdade, o PT teria que ter
sido dissolvido e o Lula teria que ter sido destituído do governo. O fato de o
judiciário não ter agido faz com que toda a corrupção ocorrida neste governo
tenha um impacto equivalente a histórias da carochinha publicadas em todos os
jornais.
Outro exemplo: quem é que nunca ouviu que o Maluf
roubou dinheiro público? Quantas vezes isso foi publicado nos jornais da
Banânia? Tudo isso não gerou nenhum resultado prático: o Maluf é eleito
deputado e goza de imunidade parlamentar. Mais uma demonstração de que nesse
país não existe democracia.
Tudo o que foi publicado sobre o Maluf perde o
efeito: a lei não age.
A democracia brasileira só funcionaria se todos
os brasileiros fossem honestos. Aí sim, por uma questão ética ninguém
infringiria as leis. É um pouco como o comunismo: só funcionaria se o mundo
fosse composto de anjos.
Só para ilustrar melhor, vamos supor que o
presidente seja um ser racional. Imaginem que ele considera suas opções
racionalmente, considerando os riscos e benefícios de cada uma. Notem que eu
não estou incluindo moral ou ética nesta equação. Pois bem: imaginem que ele
tem como beneficiar seu filho, um incompetente, mexendo os pauzinhos para ele
receber dinheiro por algo que não fez. Sendo racional ele vai pesar os riscos e
os benefícios de suas ações. O risco é ser preso, perder o mandato, ter seus
direitos políticos cassados por tráfico de influência, ser deportado do país.
Os benefícios?
Embolsar uma bolada de alguns milhões.
Como ser racional que é, o nosso (hipotético?)
presidente vai calcular a probabilidade de ser penalizado. No Brasil de hoje?
Aproximadamente 1 em 1000. Para isso ele tem até um plano de fuga: sua mulher
tem cidadania italiana. Os benefícios são certeiros. Obviamente um bom negócio.
Não há dúvida sobre qual a opção que ele vai seguir, não é mesmo?
Mais então o que você acha? Temos ou não temos a
tão falada democracia no Brasil?
*Pois há uma
imensa disputa ideológica e política se dá em torno da democracia, lhe
pergunto: quem é democrático e quem não é? Uma disputa para se apropriar do
termo, com a pretensão de que quem apareça como democrático, será
automaticamente hegemônico.
Ocorre
que tudo depende do conceito predominante de democracia.
Quem
poderia dizer que as oligarquias familiares, proprietárias monopolistas dos
meios de comunicação tradicionais no Brasil, apareçam como as mais defensoras
da democracia, supostamente ameaçada pelo Estado que promove o maior processo
de democratização na sociedade brasileira, com o apoio maçico da grande maioria
da população, em consultas eleitorais amplas e abertas, com a participação
majoritária da população?
Isso
ocorre porque falamos de coisas distintas quando falamos de democracia. A
concepção dominante, de que se valem aqueles órgãos e os partidos da oposição,
remete à concepção liberal de democracia. Esta nasceu fundada nos direitos dos
indivíduos, contra o Estado, considerado a maior ameaça à liberdade e à
democracia.
É
uma concepção fundada nos indivíduos, considerados a única realidade efetiva
nas sociedades. Margareth Thatcher chegou a afirmar que: “Não há mais sociedade,
só indivíduos”- utopia maior do liberalismo. É em torno dos direitos
individuais que se estruturaria a sociedade.
Numa
sociedade como a norteamericana, entre os direitos inalienáveis expressos na
Constituição, está o direito do porte de armas, para que os indivíduos se
defendam do Estado. (Não importa se as armas terminam nas mãos de crianças, que
matam os colegas na escola ou o seu irmãozinho.) De tal forma os direitos
individuais se sobrepõem aos direitos coletivos, que Obama não conseguiu, mesmo
esgrimindo o massacre de crianças naquela escola dos EUA, limitar esse direito
inalienável que os norteamericanos se reservam.
Segundo
os preceitos liberais, se há separação de poderes, se há eleições periódicas,
se há pluralidade de partidos, se há imprensa livre (atenção: para eles
imprensa livre quer dizer imprensa privada), então haveria democracia. O
liberalismo utiliza critérios institucionais, políticos, formais, para definir
democracia. O próprio Brasil foi, durante muito tempo, o país mais desigual do
mundo, porém passou a ser considerado democrático, quando passou a respeitar
aqueles cânones, não importando que fosse uma ditadura econômica, social e
cultural.
Hoje,
quando o Brasil passa por um processo inédito de democratização social, as
oligarquias se sentem ameaçadas. Já não controlam o governo nacional, perdem
sistematicamente as eleições em nível nacional, sentem que camadas sociais que
eram sempre postergadas por eles veem reconhecidos seus direitos e reagem de
forma violenta.
Para
que se torne efetivamente uma democracia, o Brasil precisa passar por um
processo de democratização econômica, política e cultural. Precisa democratizar
a economia, quebrando a hegemonia do capital especulativo, promovendo o
predomínio dos investimentos produtivos, que gerem bens e empregos. Precisa
promover amplamente a pequena e a média produção no campo, aquela que gera
empregos e produz alimentos para o mercado interno.
Precisa
democratizar as estruturas de representação política, promovendo o financiamento
público das campanhas eleitorais, para que os parlamentos representam
efetivamente a população, sem a intermediação falseadora do dinheiro.
Precisa
democratizar o Judiciário, para que seja um órgão eleito e controlado pela
cidadania e não pelas oligarquias do poder e da riqueza.
Precisa
democratizar os processo de formação da opinião pública, quebrando o monopólio
privado das poucas famílias que dominam de forma monopolista os meios de
comunicação. Não se trata de que se impeça alguém de falar mas, ao contrário,
que se permita que todos falem, pela multiplicação e diversificação dos
distintos meios de comunicação.
A
democracia é a maior ameaça ao poder das oligarquias tradicionais. Por isso
reagem de maneira tão irada aos processos de democratização em curso na
sociedade brasileira.
Por: Emir Sader (*)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
- Nosso blog tem o maior prazer em publicar seus comentários. Reserva-se, entretanto, no direito de rejeitar textos com linguagem ofensiva ou obscena, com palavras de baixo calão, com acusações sem provas, com preconceitos de qualquer ordem, que promovam a violência ou que estejam em desacordo com a legislação nacional.
- O comentário precisa ter relação com a postagem.
- Comentários anônimos ou com nomes fantasiosos poderão ser deletados.
- Os comentários são de exclusiva responsabilidade dos respectivos autores e não refletem a opinião deste blog.