Desta vez, a Copa foi no
Brasil e governo se engajou.
Dilma associou-se à onda de
euforia e surfou no otimismo
A seleção brasileira de futebol
perdeu para a alemã por 7 a 1 neste 8 de julho de 2014. Um vexame no campo
esportivo. A maior humilhação de toda a história do time do Brasil em Copas do
Mundo.
De volta ao mundo real, a
pergunta é: essa traulitada sofrida pela equipe brasileira produzirá algum
impacto político-eleitoral? A presidente Dilma Rousseff terá alguma dificuldade
extra por causa desse infortúnio esportivo? Ninguém tem uma resposta científica
para dar.
Sem juízo de valor, vale
registrar: o efeito foi nulo nos dois exemplos históricos recentes em que
presidentes tentavam a reeleição e o Brasil perdeu Copas do Mundo.
Em 1998, o Brasil passava por
um momento dificílimo na economia. Setores da oposição diziam que o país estava
falido, ancorado numa taxa de câmbio postiça, que mantinha a paridade
insustentável de valor entre o real e o dólar dos Estados Unidos. Na Copa do
Mundo na França, a seleção sofreu com o apagão do jogador Ronaldo, que entrou
em campo e ficou em estado de torpor durante a partida final.
Mesmo com a economia perto do
buraco e a derrota na Copa da França, em outubro de 1998 Fernando Henrique
Cardoso (PSDB) foi reeleito no primeiro turno para ficar mais 4 anos no Palácio
do Planalto.
Em 2006, as coisas não
começaram bem para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O mensalão ainda
reverberava. Ninguém sabia qual seria o efeito do escândalo nas urnas. Na
metade do ano, a seleção brasileira sofreu na Copa da Alemanha com um novo
baile tomado da equipe francesa – a imagem de Ronaldo levando um chapéu de
Zidane no meio de campo ficou na parede da memória de todos que acompanham o
esporte.
Só que em outubro de 2006 Lula
acabou sendo reeleito para mais um mandato como presidente. Poderia até ter
faturado no primeiro turno se não tivesse cometido alguns erros no final da
campanha (como ter se recusado a ir a um debate com seus adversários).
O Brasil só teve, até hoje, a
reeleição de dois presidentes da República –FHC e Lula. E ambos combinaram
vitórias nas urnas com derrotas da seleção brasileira em Copas do Mundo.
Ou seja, é possível dizer que o
impacto da derrota deste 8 de julho de 2014 terá relevância zero nas eleições
deste ano? Há argumentos a favor e contra essa possibilidade.
Ei-los:
1)
A tese de que haverá algum impacto
A Copa do Mundo não foi na França. Não foi na Alemanha. Agora, o torneio foi no Brasil. Instalou-se uma onda bem-vinda de bom humor e otimismo na sociedade.
A Copa do Mundo não foi na França. Não foi na Alemanha. Agora, o torneio foi no Brasil. Instalou-se uma onda bem-vinda de bom humor e otimismo na sociedade.
O
governo federal estava meio discreto no início. Depois, resolveu surfar nesse
momento positivo: muita gente feliz nas ruas, estrangeiros zanzando pelas
cidades, muita alegria. E dá-lhe propaganda estatal com esse slogan simplório
de que esta é a “Copa das Copas” –uma expressão que não quer dizer absolutamente
nada;
Não
houve, do governo, nenhuma palavra de “calma, gente” diante da euforia
exacerbada. Nem quando alguns meios de comunicação chapa-branca chegaram ao
paroxismo da patriotada tentando santificar Neymar e tornar o jogador Zuñiga o
pior criminoso do planeta Terra –e jogando gasolina na fogueira da internet,
onde protofascistas pediam a morte do colombiano;
Ao
fazer a brincadeira com o “é tóis”, Dilma exalou simpatia, mas ficou, em certa
medida, sócia dessa mania reducionista e infantilizada de achar que quando há
uma Copa do Mundo de Futebol “é ‘nóis’ [Brasil] contra eles [o restante do
mundo]”. O mundo é mais complexo do que isso;
E,
convenhamos, o futebol é só um jogo;
Nesse
contexto, é obviamente positivo para quem é governo (a presidente, os
governadores) a sensação de bem-estar. Quando acaba esse clima, quem está no
poder perde. As pessoas saem do seu estado de quase transe coletivo e passam a
olhar a realidade do país de maneira mais plena;
Se a
seleção brasileira de futebol tivesse vencido a da Alemanha e se também
vencesse a final, no dia 13 de julho de 2014, o noticiário chapa-branca das TVs
passaria mais 10 dias, no mínimo, entrevistando os jogadores e comissão
técnica. Tudo exalando alegria e festa no clima de “é tóis”;
Agora,
também haverá muitas entrevistas, mas com sentido oposto. Só sobre o fracasso
da equipe nacional e a incapacidade de vencer “em casa”, uma espécie de fetiche
perseguido há 64 anos, desde a derrota no Maracanã para o time do Uruguai, em
1950;
Na
noite de 8 de julho de 2014, ônibus foram incendiados em São
Paulo. Em Curitiba (PR), foram 15 ônibus apedrejados. Em Belo
Horizonte, 12 pessoas feridas e 8 presas. E assim em outras capitais;
Se o
clima de violência nas ruas voltar, certamente os governos (federal e
estaduais) não se beneficiam em nada. Nesse cenário –que ainda não se sabe se
vai virar realidade– será possível dizer que a derrota brasileira na Copa do
Mundo terá algum efeito nas disputas eleitorais de outubro;
No meio
dessa conjuntura, pode voltar a discussão sobre os bilhões de reais gastos para
fazer a Copa e o retorno desses investimentos. Afinal há novos aeroportos e
algumas obras de mobilidade urbana entregues, mas o país não está nem de longe
com uma infraestrutura compatível com a demanda da população;
2) A tese
de que não haverá algum impacto
O mau humor, com certeza, pode estar presente nos próximos dias entre milhões de fãs do futebol. Mas a via anda. Não há nas disputas recentes nenhum elemento que permita fazer a conexão entre o resultado da eleição presidencial (ou nas estaduais) com o desempenho da seleção em Copas do Mundo;
O mau humor, com certeza, pode estar presente nos próximos dias entre milhões de fãs do futebol. Mas a via anda. Não há nas disputas recentes nenhum elemento que permita fazer a conexão entre o resultado da eleição presidencial (ou nas estaduais) com o desempenho da seleção em Copas do Mundo;
No
Brasil, desde 1994, ano de eleição presidencial e de governadores é também ano
de Copa do Mundo:
1994: FHC,
candidato do governo ganhou a eleição e o Brasil foi tetracampeão nos Estados
Unidos;
1998: FHC
foi reeleito e o Brasil deu vexame na Copa da França;
2002: o
Brasil foi pentacampeão na Copa do Japão e da Coréia do Sul. Meses antes da
eleição, FHC recebeu os jogadores no Planalto e teve até cambalhota de Vampeta
na rampa do palácio. Não adiantou nada. O candidato governista, José Serra,
perdeu para Lula na disputa em outubro;
2006: Lula
foi reeleito, apesar do mensalão e de o Brasil ter tomado um baile na Copa do
Mundo da Alemanha;
2010: Lula,
presidente, conseguiu eleger Dilma como sucessora. Na Copa da África do Sul o
Brasil foi desclassificado pela Holanda;
Ou seja, quem enxergar relação
direta entre Copas e eleições estará mentindo. Se houve um padrão até hoje foi
o de não existir relação de causa e efeito entre o esporte e o resultado das
urnas.
É implausível um cenário no
qual um eleitor de Dilma Rousseff ou indeciso adote de maneira automática o
seguinte raciocínio: “Hummm… O Brasil perdeu a chance de ganhar a Copa do Mundo
aqui em casa. Perdemos de 7 a 1 pra a Alemanha. Um vexame. É culpa do governo.
Por isso, vou votar na oposição”.
No final deste mês de julho de
2014, a derrota do Brasil para a Alemanha no Mineirão continuará sendo assunto
em mesas redondas de futebol, mas as pessoas estarão interessadas em outros
assuntos. Vida que segue.
Nesse cenário, sobram para os
brasileiros alguns legados da Copa. Os estádios, por mais defeitos que possam
ter, são muito melhores do que os antigos. E a partir de agora, o público do
Campeonato Brasileiro (entradas a R$ 30 ou R$ 50) poderão usufruir das novas
arenas.
O mesmo vale para vários
aeroportos (alguns já prontos) que são mais modernos, obras de mobilidade
urbana e estradas. Muitas obras ficaram pelo caminho, dezenas foram
superfaturadas. Mas houve entregas e os cidadãos vão usar.
Em resumo, o quadro é incerto e
será necessário muita temperança antes de dizer que tudo já está decidido nas
eleições deste ano.
Por: Fernando Rodrigues
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