O Partido dos Trabalhadores
governa oficialmente o Brasil desde 2003, quando Lula foi eleito presidente. Em
dez anos, nunca antes da história deste país viu-se tanto desmando, tanto
desbunde, tanto desbrio, tanto descalabro, tantos desvios de verbas e de
caráter.
O PT teve a proeza de destronar
da vida pública de modo praticamente definitivo todas aquelas características
que eram vistas, desde os idos da Grécia clássica, como essenciais para o
exercício da política: verdade, hombridade, maturidade, honra e honestidade. Se
antes aqueles que se desviavam dessa linha-mestra eram vistos como incidências
abjetas na vida política brasileira, hoje o próprio desvio é que se transformou
em linha-mestra.
Por mais que se repise essa
constatação, há grande resistência por parte de uma multidão (para não dizer
manada) de gente bem-intencionada, excessivamente ingênua e facilmente
enganável, em admitir que, na última década, o nosso país piorou sob todos os
aspectos – político, econômico, social, jurídico e cultural. O PT ainda é
diuturnamente tratado como a grande vítima das próprias impropriedades que
cometeu, como se os planos meticulosamente traçados para se obter e manter o
poder no Brasil fossem por hora apenas deslizes cometidos por uma minoria
aloprada, ora métodos tortos cujo objetivo era apenas garantir o bem do povo ao
se buscar a perpetuação do partido no governo.
Á um
sem-número de documentos emitidos pelo próprio PT que indica de maneira incontestável
o projeto de poder do partido. O radicalismo socialista troglodítico foi
substituído por um radicalismo socialista sofisticado, cheio de finesse (Delicadeza,
fineza, finura, refinamento, tato; manobra sutil, artifício, manobra
diplomática. Palavra oriunda a língua francesa) e com ares de alta
intelectualidade, mas o objetivo continua sendo um e o mesmo: enredar a nação
em seus tentáculos pegajosos indefinidamente. Esse afã pelo poder não é um
“privilégio” apenas do Partido dos Trabalhadores aqui no Brasil: diversos
outros partidos, organizações, institutos e que tais, aqui e lá fora, possuem o
mesmo objetivo, e, ao contrário do que a insistência extraordinariamente
estúpida de um exército de analistas e experts garante, esse objetivo é
perseguido de modo muito bem articulado a nível internacional.
A própria
existência de uma organização como o Foro de São Paulo é, de per si, prova
cabal desse fato. Aliás, o próprio documento preparado pelo PT para XVIII Encontro do Foro de São Paulo, que ocorre
em Caracas ao longo dessa semana, é mais uma peça que explicita naquela típica
linguagem melifluamente “progressista e de esquerda”, os objetivos do PT.
Todas as
citações que aqui farei são traduções livres de trechos do documento do
partido, que foi divulgado em língua hispânica. O primeiro grande destaque do
documento é a defesa da necessidade de se instrumentalizar organizações
variadas da sociedade civil para que o PT continue no comando da nação. Nesse
sentido, o documento afirma que “o PT terá de dedicar-se com mais empenho a
organizar as camadas populares, em particular os trabalhadores assalariados, em
sindicatos, movimentos populares urbanos e rurais, associações femininas,
movimentos de juventude, instituições desportivas e culturais, e em um
sem-número de formas criadas por iniciativa das classes e camadas populares.”
Quem aponta isso é o próprio presidente nacional do partido, Rui Falcão, que
complementa:
Somente
com a participação ativa dessas camadas populares, o PT e o governo poderão
vencer as resistências que os setores conservadores, na sociedade, no Congresso
e inclusive em setores do aparato do Estado, interpõem às reformas
indispensáveis ao plano de desenvolvimento econômico e social que façam do
Brasil um país verdadeiramente soberano, independente, e com um povo material e
culturalmente avançado.
Rui Falcão, presidente nacional do PT.
Notem que
“PT” e “governo” são utilizados como se fossem a mesma coisa, partes
indissociáveis do mesmo organismo. Esse tom é mantido ao longo de todo o
documento: o Partido dos Trabalhadores é visto indisfarçavelmente como o único
membro legítimo do governo – ou seja, o PT é o governo. Essa visão é
acompanhada sempre e em toda parte pela defesa da superioridade moral do
partido, uma vez que ele é o único que pode tornar o Brasil “culturalmente
avançado”.O PT – que, à guisa de personagem orwelliana, será doravante
denominado apenas por Partido, com maiúscula – não objetiva, entretanto, o
governo, e quem lembra isso muito bem é Iole Ilíada, secretária de relações
internacionais do Partido. A conquista do governo não garante a conquista do
poder – algo que, segundo Gramsci, dependia da correlação de forças (rapporti
di forze) entre burguesia e proletariado. O objetivo do Partido no governo
seria, portanto, atuar na alteração da correlação de forças, ou seja, “deslocar
a burguesia como classe hegemônica e dominante” e “transferir poder (em suas
várias formas: político, econômico, cultural etc.) às classes trabalhadoras”.
O Partido,
como já se desconfiava, não está no governo para melhorar a vida da população e
trabalhar efetivamente para o desenvolvimento nacional: “vale a pena ser governo
quando a esquerda é capaz de usar sua presença como um fator de deslocamento da
correlação de forças a favor dos trabalhadores”. E Iole é enfática: “Não se
trata aqui de pensar em uma alteração da correlação de forças que gradualmente
nos conduza do capitalismo ao socialismo, mas em um processo de acumulação de
forças que, em algum momento, pode tornar possível a ruptura desejada.”
Há um nome
que define muito bem a “ruptura desejada” que o Partido tanto almeja:
revolução. Não falamos aqui daquela revolução tradicional, com sublevação
armada e derramamento de sangue, ao modo da revolução francesa e russa, mas de
revolução cultural, estrutural, gramsciana. Continua Iole:
O
reconhecimento dessa falta de transferência efetiva de poder aos trabalhadores
é importante porque a presença da esquerda no governo pela via eleitoral, por
mais que a queiramos duradoura, pode ser transitória. Isso faz com que seja
necessário que as mudanças se convertam em transformações estruturais, de
difícil reversão por parte de governos de direita que nos possam suceder. Mais
ainda, tal reconhecimento é importante para ampliar a consciência e a
capacidade de organização, intervenção social e luta dos trabalhadores, de modo
que a acumulação de forças possa apontar para a necessidade de conquistar não
apenas o governo, mas também o poder.
Extrapolando
o contexto nacional, o Partido reafirma em quase todos os parágrafos do
documento ao XVIII Encontro do Foro de São Paulo seu compromisso com a
integração regional – não de países, não de nações, mas de organizações
“progressistas e de esquerda”, de modo a formarem uma plataforma comum com
engrenagens bem azeitadas que girem na sincronia necessária para tingir de
rubro todo o subcontinente. Renato Simões, secretário de movimentos sociais do
Partido, explica como isso é visto (e quisto) pelo Partido:
Em sua
grande maioria, os partidos progressistas e de esquerda da América Latina se
organizam no Foro de São Paulo, cuja influência política vem crescendo, ano
após ano, para suas responsabilidades partidárias, seja como membros de
governos eleitos, seja como as principais forças de oposição a governos
neoliberais.
Em vários
países, os movimentos sociais buscam avançar em sua organização, superando
fragmentações e pulverizações marcadamente impostas pela hegemonia neoliberal.
Eles buscam eixos políticos mais nítidos e unificados para incidir na
correlação de forças na sociedade e frente aos governos nacionais. No Brasil,
há um importante esforço no sentido de consolidar a CMS – Coordenação dos Movimentos
Sociais, que hoje integra os movimentos sociais mais representativos do país.
A recente
instalação de uma Comissão de Movimentos Sociais junto ao Grupo de Trabalho do
Foro de São Paulo mostra que estamos atentos aos desafios de consolidar estruturas
próprias para o diálogo partidário com os governos e movimentos sociais. Como
disse a companheira Dilma Rousseff em seu discurso ao Diretório Nacional do PT,
antes de assumir a presidência da República, em um terceiro período de governo
é essencial aceitar as relações entre o Partido, o Governo e os Movimentos
Sociais, trincheiras de uma mesma luta, espaços estratégicos para um mesmo
projeto, essencial para a transformação de nossa sociedade.
Uma vez
mais, tocamos aqui na simbiose orgânica necessária para a conquista do poder no
Partido e sua manutenção: comandar o governo e cooptar os movimentos sociais. O
que se busca é a pura instrumentalização ideológica de todos os meios
disponíveis para que o Partido tenha controle total e irrestrito sobre a nação.
Essa conclusão não é fruto de um delírio que brota de uma mente conservadora
(e, portanto, patologicamente perturbada), mas apenas de simples interpretação
de texto: é isso o que está escrito, e de modo claro e cristalino.
Gramsci: o segredo do sucesso do Partido.
No entanto,
a conquista da hegemonia, dentro da visão gramsciana que permeia o Partido
integralmente, só se pode dar de modo seguro e duradouro através da atuação de
intelectuais orgânicos – “intelectuais que, além de especialistas na sua
profissão, que os vincula profundamente ao modo de produção do seu tempo,
elaboram uma concepção ético – política que os habilita a exercer funções
culturais, educativas e organizativas para assegurar a hegemonia social e o
domínio estatal da classe que representam (Gramsci, 1975, p. 1.518).
Conscientes de seus vínculos de classe, manifestam sua atividade intelectual de
diversas formas: no trabalho, como técnicos e especialistas dos conhecimentos
mais avançados; no interior da sociedade civil, para construir o consenso em
torno do projeto da classe que defendem; na sociedade política, para garantir
as funções jurídico-administrativas e a manutenção do poder do seu grupo
social” (SEMERARO, 2006).Como garantir, então, que haja tais intelectuais
orgânicos que, ao longo das décadas, atuem para a conquista e a manutenção do
poder por parte do Foro de São Paulo? Carlos Henrique Árabe, secretário de
formação do Partido, relembra que, durante o XV Encontro do Foro de São Paulo,
no México, ocorreu a primeira reunião de escolas e fundações do FSP, que
apontou para a necessidade de “abordagem, vinculação, intercâmbio e cooperação
entre as fundações, universidades, escolas de formação e outras entidades
educacionais e de treinamento dos partidos integrantes do Foro de São Paulo,
nas áreas de investigação, formação e divulgação.” O objetivo central eleito
pelas organizações que participaram dessa reunião foi a criação da Escola Latino
americana de Formação Política, uma universidade internacional do Foro de São
Paulo para a formação de quadros partidários, lideranças de ONGS e movimentos
sociais e, de modo particularmente especial, intelectuais orgânicos.O Foro de
São Paulo tem avançado em praticamente todos os campos em que se dispôs a atuar
e, com exceção de algumas incansáveis iniciativas ainda isoladas (e
constantemente ignoradas pelos veículos de informação e o público geral), sua
própria existência tem passado despercebida. O assessor especial da Presidência
da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, um dos
artífices do documento do Partido para o encontro do FSP, faz questão de
lembrar: “As mudanças profundas que vêm experimentando nossos países há anos,
sobretudo onde as esquerdas estão no governo, são resultado de dinâmicas
internas, evidentemente. No entanto, elas também são consequências de um processo
político coletivo que teve no Foro um lugar privilegiado.”
A UNASUL
(União das Nações Sul-Americanas), a CELAC (Comunidade de Estados
Latino-Americanos e Caribenhos), a Telesur, a ALBA (Aliança Bolivariana para os
Povos da Nossa América), todas essas iniciativas foram gestadas no ventre do
Foro de São Paulo. Todas as ações desses grupos são unívocas e convergem para o
mesmo objetivo: o controle total do subcontinente americano por uma verdadeira
camarilha de genocidas em potencial. Quando se atam os elos soltos, que
aparentemente nada tem a ver uns com os outros, vê-se com clareza quão bem se
encaixam e como a corrente que formam é coesa e aprumada.
E é
justamente a ausência de qualquer esforço em larga escala para divulgar os
planos do Foro de São Paulo que faz do (ingrato) trabalho daqueles que se
propõem a monitorar os passos desse grupo algo tão precioso e necessário. E é
um trabalho que precisa melhorar: devemos aumentar a capilaridade do fluxo de
informações sobre o Foro de São Paulo e estimular outras iniciativas (dentro e
fora do Brasil) que objetivem ao desmascaramento do grupo. Já escrevi em outros
textos e volto a afirmar: estamos em guerra. Cedo ou tarde, ela baterá com
força à nossa porta, e, aí, já não poderemos fazer mais nada.
04 JULHO 2012
Consciência Política PM&BM
Discurso do PT
ResponderExcluirAntes da posse:
Nosso partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
A honestidade e a transparência são fundamentais.
Para alcançar nossos ideais
Mostraremos que é grande estupidez crer que
As máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
A justiça social será o alvo de nossa ação.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
Se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
Se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
Nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos nossos propósitos mesmo que
Os recursos econômicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.
Depois da posse:
Basta ler o mesmo texto , DE BAIXO PARA CIMA.
Antigamente, a palavra de ordem dos petralhas era esta:
ResponderExcluir“Todos são corruptos, menos nós”.
Foi assim que Lula se criou. De 2003 para cá, eles mudaram um pouquinho — ou muito:
“Os tucanos também são corruptos, não somos apenas nós”.
Eles têm uma verdadeira sede de provar que todos são iguais já que não conseguem mais manter o discurso de que eles são diferentes. É uma doença moral incurável.