Para entender melhor o
que é a desmilitarização, os prós e contras de se adotar a proposta, o Portal
EBC realizou nesta quinta-feira (1º) um bate-papo sobre o tema.
Especialistas debateram
o modelo de polícia no Brasil, a questão do corporativismo e da impunidade
policial, a violência nas manifestações e apresentaram propostas para uma
política de segurança pública eficiente. Para os participantes,
desmilitarização não é só "tirar a farda" de militar.
Confira a íntegra do
debate sobre desmilitarização com Alexandre Ciconello, advogado especialista em
direitos humanos, Nelson Gonçalves de Souza, militar da reserva, especialista
em segurança pública e professor da Universidade Católica de Brasília e Carlos
Weis, coordenador do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria
Pública de São Paulo.
Para Nelson Gonçalves o
significado da desmilitarização não está na denominação e sim no método. Ela
deve ser entendia como uma mudança de valores e princípios que norteiam a
polícia brasileira.
Hoje no Brasil há uma
bipartição da polícia, dividida entre civil e militar. Polícias regidas por
normas, regimes e filosofias diferentes e que por vezes competem entre si.
O defensor público
Carlos Weis cita como exemplo a rigidez do regimento interno da PM de São
Paulo, que proíbe o qualquer militar, seja aposentado ou da ativa, de fazer
crítica a corporação. Os crimes cometidos por militares também são
julgados em uma instância própria o Tribunal de Justiça Militar.
Entre os motivos para
acabar com a polícia militar estão o corporativismo, o exacerbado cultivo a
símbolos e valores da corporação, o treinamento de combate e cultura de
enfrentamento. Weis citou como exemplo a declaração de um dos réus do
julgamento do Massacre do Carandiru, quando o policial declarou que “a Rota é
um sacerdócio”.
Para Ciconello, 'uma
polícia que tem a lógica do revide não pode existir dentro do ambiente
democrático'. Já o Gonçalves acredita que “as polícias brasileiras são
resultados de uma construção social desde a chegada da Coroa portuguesa” e que
uma mudança nos cursos de formação da PM já passam por mudanças.
Alexandre Ciconello destacou
a violência da polícia brasileira. 'Polícia norte-americana, registrou 900
casos de homicídios por policiais a do PM do Rio de Janeiro mata em média 1,2
mil pessoas por ano”, afirma o advogado especialista em direitos humanos.
Como primeiro passo para
a desmilitarização passa pelo debate das propostas de emenda à constituição
sobre tema que estão sendo discutidas no Congresso, diz Wies.
Mas, para além do fim da
polícia militar, os debatedores apontam para a importância da unificação das
policias, a reformulação no treinamento, voltado para uma prática cidadã, e o
fortalecimento do controle externo e transparência nas ações. Para Nelson
Gonçalves, hoje há uma tentativa séria de mudança no discurso formativo desses
policiais e se dará na renovação dessas corporações. 'Estamos falando de um
processo que precisa ser educacional e que levará bastante tempo', diz o
professor.
Participação
O bate-papo contou a participação dos internautas. Questionado sobre o abuso de poder e a impunidade policial, Alexandre Ciconello, falou da dificuldade de punir maus policiais.
O bate-papo contou a participação dos internautas. Questionado sobre o abuso de poder e a impunidade policial, Alexandre Ciconello, falou da dificuldade de punir maus policiais.
“A cada 100 crimes
cometidos por policiais menos de oito são investigados”, disse o advogado. O
representante da Defensoria Pública de São Paulo informou que o órgão está
entrado com 300 pedidos de indenização de famílias que tiveram parentes mortos
por policiais.
Perguntados sobre quem
poderia fazer a mediação com os manifestantes, Weis sugeriu que as
recomendações da ONU sejam seguidas, e que o diálogo seja feito como controle
compartilhado, com um representante do Estado e outro indicado pelos
manifestantes.
Portal EBC
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