E assim se passaram dez anos: três reflexões sobre a velharia ideológica do PT

Em relação à candidatura Serra em São Paulo – como formas de combatê-la, melhor dizendo-, alguns antigos chavões foram novamente postos em circulação. Idéias sem pé nem cabeça, como sempre, entre as quais estas três: Serra é antipático; o PSDB está superado; o PT, bem ou mal, é um partido ideológico.

 

“Antipático” vai da cabeça de cada um. Eu não escolho um candidato porque sou ou quero ser amigo dele, escolho um que tenha discernimento, experiência, competência e seriedade no trato das coisas públicas – a começar, evidentemente, pelo trato do dinheiro público. “Dinheiro público” – me permito lembrar isto aos distraídos- é aquele dinheiro que pagamos todo ano sob a forma de impostos.

 

“O PSDB está superado”. Admita mos, para argumentar, que essa afirmação tem um significado claro: o PSDB precisa se renovar. De acordo, mas, nesse sentido, existe no Brasil algum partido que NÃO precise se renovar?

 

Algumas das pessoas que fazem essa crítica ao PSDB falam como se organizar um novo partido fosse a coisa mais simples do mundo. Um partido coeso, com líderes de primeira linha e milhares de militantes em todo o país – why not?

 

Um partido solidamente unido em torno de um programa atualizado e relevante, e capaz de disputar eleições nos diversos estados e milhares de municípios? Facílimo, não é? Tão fácil quanto abrir uma lanchonete na esquina, o que, aliás, não é tão fácil como às vezes se imagina.

 

Ainda assim, admitamos, para argumentar, que é mesmo facílimo. Vamos organizar um partido novo no próximo ano? Vamos!!! Mas até lá, fazemos o quê? Entregamos a cidade e depois o estado de São Paulo aos paus-mandados do Lula?

 

Por último, “o PT, bem ou mal, é um partido ideológico”. Ideológico? De qual ideologia, a do Delúbio? A que foi fulminada esta semana no STF? Não, não vou dizer isso; soa como provocação.

 

Digamos, então, que se trata da ideologia antiga, tradicional, supostamente socialista. Aquela que levou a “plêiade” política e intelectual que orienta o partido a se opor a TODAS as iniciativas importantes tomadas no Brasil desde a redemocratização?

 

Só para lembrar: contra a candidatura Tancredo Neves, que pôs fim ao regime militar; contra a Constituição de 88, que não a mencionada “plêiade” se recusou a assinar; contra o Plano Real, que deu cabo da superinflação crônica que impedia praticamente o funcionamento da economia...

 

Pois bem, esse partido “ideológico”, ao chegar ao poder, em 2002, não tendo idéia alguma quanto ao que fazer na economia, viu-se (felizmente!) forçado a manter a linha implantada pelo governo Fernando Henrique. Palmas para ele! O problema foi que o governo Lula e a cabeça dos petistas pararam aí.

 

Durante todo o mandato do Grande Guia, limitaram – se a entoar a cantilena segundo a qual as reformas anteriormente debatidas eram inaceitáveis, porque “neoliberais”. E outra cantilena, esta de um bom partido ideológico, só que dos anos 50: os urgentíssimos investimentos em infra - estruturas teriam que ser feitos com recursos públicos…

 

Questão de “soberania”. Agora, envergonhadamente – fugindo da palavra “privatização” como o diabo foge da cruz-, a Dra Dilma resolveu se mancar. Timidamente, incompetentemente, começa a enxergar a realidade.

 

O problema – como dizia um antigo bolero mexicano-, é que dez anos se passaram.

 
Por :Augusto José Sá Campello

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