Como devem
ser distribuídos os bens numa sociedade? […] Serão consideradas aqui três
perspectivas — primeiro o utilitarismo, e depois as perspectivas não
consequencialistas de John Rawls e Robert Nozick.
O
utilitarismo clássico diz que deves maximizar o prazer em detrimento da dor.
Se a nossa ação maximiza o bem, não importa se a distribuição do bem é igual ou desigual. Logo, o utilitarismo justifica em princípio um grande fosso entre ricos e pobres.
Se a nossa ação maximiza o bem, não importa se a distribuição do bem é igual ou desigual. Logo, o utilitarismo justifica em princípio um grande fosso entre ricos e pobres.
Todavia, os
utilitaristas afirmam que na prática a sua perspectiva prefere uma distribuição
mais igual. Considera uma pequena sociedade de ilhéus constituída por duas
famílias. A família rica ganha 100 000 euros por ano e tem bens em abundância;
a família pobre ganha 5 000 e confronta-se com a possibilidade de passar fome.
Supõe que 2 500 euros da família rica vão para a família pobre. A família pobre
beneficiaria enormemente, e a família rica dificilmente sentiria a falta desse
dinheiro. A razão para isto é a diminuição da utilidade marginal do dinheiro; à
medida que enriquecemos, cada euro extra faz menos diferença no nosso
bem-estar. Passar de 100 000 euros para 97 500 não faz diferença, mas passar de
5 000 para 7 500 euros faz uma grande diferença.
Assim, argumentam os
utilitaristas, uma certa quantidade de riqueza tende a produzir mais felicidade
total se for repartida mais imparcialmente. A nossa sociedade de ilhéus
provavelmente maximizaria a sua felicidade total se ambas as famílias
partilhassem igualitariamente a riqueza.
Apesar de
parecer sensato, os não consequencialistas têm dúvidas em relação a isto. Se
uma família retira mais prazer do que outra de uma certa quantidade de
dinheiro, deveria por isso ter mais dinheiro (uma vez que isto maximizaria o
prazer total)? Será isso justo? E mesmo que o utilitarismo conduza a juízos
corretos sobre a igualdade, será que o faz pelas razões certas? É a igualdade
boa, não em si, mas meramente porque produz o maior total de felicidade?
John Rawls
propôs uma influente abordagem não consequencialista à justiça. Como podemos
decidir o que é justo? Rawls sugere que a pergunta a fazer é esta: que regras
mereceriam o nosso acordo em certas condições hipotéticas (a posição original)?
Imagina que somos livres, lúcidos e conhecemos todos os fatos relevantes — mas
não conhecemos o nosso lugar na sociedade (se somos ricos ou pobres, negros ou
brancos, de sexo feminino ou masculino).
A limitação do conhecimento tem o
objetivo de assegurar a imparcialidade. Por exemplo, se não sabemos qual é a
nossa raça, não podemos manipular as regras para favorecer uma raça e
prejudicar outras. As regras de justiça são as regras que mereceriam o nosso
acordo nestas condições de imparcialidade.
Que regras
mereceriam o nosso acordo na posição original? Rawls argumenta que
escolheríamos estes dois princípios básicos de justiça (e cuja formulação
simplifiquei):
- Princípio
da liberdade igual: A sociedade deve assegurar a maior liberdade para cada
pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros.
- Princípio
da diferença: A sociedade deve promover uma distribuição igual de riqueza,
exceto se as desigualdades servirem como incentivo para benefício de todos
(incluindo os menos favorecidos) e estiverem abertas a todos numa base igual.
O princípio
da liberdade igual assegura coisas como liberdade de religião e liberdade de
expressão. Rawls diz que tais direitos não podem ser violados a favor da
utilidade social. O princípio da diferença é acerca da distribuição de riqueza.
Na posição original poderíamos sentir-nos atraídos pela perspectiva igualitária
segundo a qual todos deveriam ter exatamente a mesma riqueza. Mas desse modo a
sociedade estagnaria, uma vez que as pessoas teriam poucos incentivos para
fazerem coisas difíceis (como tornarem-se médicos ou inventores) que acabam por
beneficiar todas as pessoas. Por isso, preferiríamos uma regra que permite
incentivos.
De uma
maneira geral, todos teriam a mesma riqueza numa sociedade rawlsiana — exceto
para desigualdades (como pagar mais a médicos) que são justificadas como
incentivos que acabam por beneficiar todas as pessoas, e que estão abertas a
todos numa base igual.
Robert
Nozick é o crítico mais duro do princípio da diferença de Rawls. A perspectiva
que propõe é a da titularidade das posses justas. Esta perspectiva diz que tudo
o que ganhas honestamente através do teu esforço e de acordos justos é teu. Se
alguém ganhou legitimamente o que tem, então a distribuição que daí resulta é
justa — independentemente de poder ser desigual. Ainda que outros tenham muito
menos, ninguém tem o direito de se apropriar das tuas posses. Esquemas (como
taxas diferenciadas de impostos) que forçam a redistribuição de riqueza são
errados porque violam o teu direito à propriedade. Roubam o que é teu para dar
a outros.
Quanto devem
ganhar os médicos? Segundo Nozick, devem ganhar seja o que for que ganhem
legitimamente.
Numa sociedade podem ganhar praticamente o mesmo que qualquer
outra pessoa; noutra, podem ganhar grandes somas de dinheiro. Nos dois casos,
são titulares do que ganham — e qualquer esquema que lhes retire os seus ganhos
para ajudar outros é injusto.
Que
perspectiva devemos preferir, a de Rawls ou a de Nozick? Se apelarmos a
intuições morais, ficaremos num impasse; as intuições liberais estão de acordo
com Rawls, enquanto as intuições libertárias estão de acordo com Nozick.
Contudo, eu afirmaria que a consistência racional favorece algo de parecido com
a perspectiva de Rawls.
Imagina uma sociedade organizada segundo a concepção de
mercado livre de Nozick e na qual, depois de várias gerações, há um grande
fosso entre ricos e pobres. Aqueles que nasceram numa família rica são ricos, e
aqueles que nasceram numa família pobre sujeitam-se a uma pobreza que não podem
vencer. Imagina que tu e a tua família sofrem desta pobreza. Se estiveres nesta
situação, poderás desejar que os princípios de Nozick sejam seguidos?
Por: Harry Gensler (Tradução de Faustino Vaz - Extraído de Ethics: A contemporary
introduction, de Harry
Gensler (Routledge, 1998)
Polícia Cidadã
Para alcançarmos está
Polícia Cidadã é necessário antes de qualquer coisa que nós como cidadãos de um
país democrático tenhamos uma polícia desmilitarizada, há uma necessidade
urgente dessa transformação. Para que tenhamos uma Polícia Cidadã somente é
necessário que você Assine a nossa petição:
PETIÇÃO PÚBLICA PELA DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS E BOMBEIROS MILITARES
DO BRASIL!
Consciência
Política PM&BM
Nenhum comentário:
Postar um comentário
- Nosso blog tem o maior prazer em publicar seus comentários. Reserva-se, entretanto, no direito de rejeitar textos com linguagem ofensiva ou obscena, com palavras de baixo calão, com acusações sem provas, com preconceitos de qualquer ordem, que promovam a violência ou que estejam em desacordo com a legislação nacional.
- O comentário precisa ter relação com a postagem.
- Comentários anônimos ou com nomes fantasiosos poderão ser deletados.
- Os comentários são de exclusiva responsabilidade dos respectivos autores e não refletem a opinião deste blog.