sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Desabafo sobre a desmilitarização




1º SGT INDIGNADO – NMU.


 

Sempre quis ser militar, pois admirava a postura e a conduta daqueles homens. Entrei na Aeronáutica aos dezoito anos com o intuito de satisfazer esse sonho e lá veio minha primeira decepção. Só aprendi os termos "sim senhor" e "não senhor, além de puxar muita hora.


Decepcionado cumpri o meu tempo de serviço obrigatório e saí dizendo que nunca mais passaria por tais humilhações. Passados quase dois anos da baixa mordi minha língua, pois estava em uma guarita do presídio da Papuda puxando hora e passando pelas mesmas privações. Pensei, sou militar, mas também sou um policial e talvez com o tempo isso passe. Ledo engano. Estou há dezenove anos na PMDF e parece que entrei ontem diante das poucas mudanças que aconteceram nesse período.

Muitos têm um falso conceito do que é o militarismo de verdade. Na minha concepção é um método eficaz de controle de um grande contingente de homens que poderão ser utilizados caso uma guerra se estabeleça, pois através de seus vários regulamentos os superiores conseguem se sobrepor e subjugar seus subordinados. A meu ver ele não é sinônimo de hierarquia e disciplina uma vez que em outras organizações ou sociedades também compartilham de tais princípios.

Mas trazendo o militarismo para a função policial não o reconheço como algo essencial, pois se tem a falsa ilusão de que capacidade está ligada àquele que tem a maior patente ou prerrogativa de função. As verdadeiras competências, no sentido estrito da palavra, são deixadas ao segundo plano diante do preconceito contra os menos abastados (praças) e alguns casos (oficiais).

O militarismo não condiz com a boa prestação do serviço policial à população, pois nos centros de formação é pregado o contrário como a truculência, a humilhação, deixando o profissionalismo de lado. Nunca pensei que diria isso, mas hoje sou totalmente a favor da desmilitarização das polícias e bombeiros militares, pois segurança pública se faz com uma polícia cidadã e não por militares prontos para ir pra guerra.

Portanto, desmilitarização já! Eu abracei essa idéia e já assinei a petição. Venha também você fazer parte dessa mudança. Acesse:


Como certos assuntos estão interligados vamos também lutar juntos pela nossa valorização. Somente com a nossa união conseguiremos atingir os nossos objetivos.

Que lutemos pela reestruturação de nossas carreiras e pela reformulação da nossa lei de vencimento (10486/02), pois nossos soldos já estão congelados há mais de 10 anos.

Estas duas propostas devem andar lado a lado, pois o encaminhamento de apenas um delas não resolverá nossa situação.

Mas para isso será necessário mostrar a nossa mobilização comparecendo na Praça do Relógio no próximo dia 19 de setembro às 09 h da manhã além do cumprimento de outras ações.

Os políticos não nos cobram o voto? Então vamos juntos cobrar deles a contrapartida. Um abraço a todos.

1º SGT INDIGNADO

NMU

Outro desabafo:

Caro, e indignado, locutor,

Compartilho da sua indignação quanto à deturpação do militarismo.

Trata-se de um paradigma de administração - como você bem disse - voltado para a guerra, isto é, situações extremas de sobrevivência e violência. Em tempos de paz, o militarismo (com todo o seu rigor, às vezes ampliado pela ignorância de parte do oficialato) é um disparate. Mesmo nas forças armadas!

No âmbito do exército e coirmãs, deveria se empregar o militarismo durante operações e treinamentos. No dia-a-dia, é mais adequado se utilizar de outros paradigmas gerenciais mais adequados à manutenção da qualidade de vida dos membros das equipes que dão vida à corporação.

No âmbito da polícia, então, é escorchante. É como se estivéssemos o tempo inteiro em operações e campanhas de guerra, uma vez que o combate (seria melhor dizer, a prevenção) ao crime feito pelo miliciano é diário. Quem aguenta um estado de guerra sem fim? Nenhuma tropa do mundo! Ademais, a doutrina do search and destroy (localizar e destruir) não combina com a do to serve and to protect (para servir e proteger). Se os próprios policiais não se sentem protegidos, quem protegerá a sociedade?

Somos de uma organização formada por homens e mulheres honestos, trabalhadores, que se dedicam a correr em direção às ameaças, enquanto todos os outros cidadãos fogem. Precisamos de dignidade (aliás, quem não precisa? - isso também se aplica a médicos e professores, sendo estes últimos a esperança da nação).

O militarismo na polícia corrói corações, destrói amizades e nos afasta dos cidadãos. Os civis que tanto precisam de nós.

Há que se humanizar a polícia. Em um estado de guerra, ainda que fôssemos uma força pública civil, se convocados para as forças armadas, enfrentaríamos com galhardia as privações do front, para defender os que ficariam para trás (nossos entes queridos). Agora, fazer do cotidiano dos policiais militares um front sem fim. Com horas e horas em pé, a cavalo, na direção de uma viatura, sem comida, sem água, sem descanso, sem uma noite de sono... em tempos de paz!? É óbvio que isso não faz sentido e acaba por fazer com que se preste um desserviço à sociedade, na medida em que temos profissionais destruídos em seus corpos e mentes, estafados e humilhados. Não há salário que compense isso! Não é caso de aumento, apenas, há que se considerar a necessidade premente de ver os policiais como seres de carne e osso, com todas as fragilidades inerentes à condição humana. Humanizar a polícia é civilizá-la; torná-la civil, consoante à sua vocação.

A sociedade precisa de uma polícia ostensiva civil, humanista, racional, eficiente e... Meritocrata. Melhor ainda seria uma polícia de ciclo completo.

Torço por você, locutor. Por nós. Também tenho feito minha parte daqui de meu gabinete, como já fiz nas ruas (estou de restrição definitiva agora). Não é fácil para nós que tentamos fazer a polícia melhor - ou ao menos não tão ruim. Todos os que sonham com um mundo melhor são perseguidos. Mas estes que nos perseguem não são maus, não, locutor. São apenas ignorantes. Eles não sabem o que fazem. A ignorância é a "caixa de pandora" de toda a humanidade.

Um abraço. A força esteja contigo. Sempre.

O caverna

Um comentário:

  1. Caros companheiros de farda. Adoro o serviço policial, é ótimo quando vamos atender a uma ocorênica e a solucionamos. Em um tiroteio a adrenalina sobe e a gente não quer saber ou nem pensa nas consequênicas, se temos filhos para criar ou não, no entando, não faço mais nada hoje, quando lembro da forma que somos tratados pelos nossos governantes e o quanto somos indiscrinados pela nossa farda. Hoje só penso no contra-cheque ao final do mês. O Governo (GDF)não atende mais aos nossos apelos (esse atual nunca nos atendeu), pois são mais de cinco anos sem aumento e eles acham que temos motivo para trabalhar-mos satisfeitos e produtivos. Não trabalho mais, somente passo a hora para voltar novamente para o meu lar, ou meu bico. Esse que quase toda tropa anda fazendo, devido ao nosso salário não dar mais para pagar o aluguel, o colégio das crianças (esse que ainda tento deixá-los em uma escola particular), as compras do mês, a prestação do carro usado, a faculdade da companheira, o aluguel (no entorno por que é mais em conta) e por ai vai. E depois disso tudo ainda querem que trabalhemos e produzimos? O Governo somente está colhendo o que ele plantou. Planta descaso como os Praças colhe violência na sociedade.

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