Greve da Polícia Militar na Bahia
Por Walter Takemoto
O "Jornal Nacional" divulgou
conversas telefônicas entre o Prisco e outros dirigentes de associações de PMs
e Bombeiros, articulando apoios para greve e ações voltadas para criar confusão
e pânico nas cidades.
A
partir da divulgação dessas gravações voltaram com mais força as ofensas ao
Prisco e outras lideranças da greve. Bandidos. Criminosos. Terroristas.
Tucanos.
Ao
mesmo tempo, nas redes sociais circulam cartazes com "Desocupa Prisco",
"Fora Prisco", entre outros.
E alguns lançam desafios aos que defendem a greve para se
manifestarem após a matéria do JN.
"Qual é a categoria de trabalhadores que não se articula
nacionalmente para elevar sua capacidade de luta e de negociação?"
Pois bem, eu me manifesto, pois a defesa que
faço não tem nada a ver com a matéria do JN ou de qualquer outro órgão de
imprensa. Defendo a partir dos princípios que sempre defendi e que acreditava
que os companheiros que estão no governo também compartilhavam.
Em primeiro lugar, pergunto a quem ataca os
grevistas por articularem uma greve nacional: qual é a categoria de
trabalhadores que não se articula nacionalmente para elevar sua capacidade de
luta e de negociação? Principalmente quando até os postes sabem que os
policiais estão lutando para aprovar a PEC que institui o piso salarial
nacional. Estranho seria se eles não organizassem nacionalmente suas lutas. Mas
o pior, o estranho e a burrice é a surpresa dos governantes diante das greves
que ocorreram e estão ocorrendo nos estados. Será fruto da prepotência ou da
incompetência mesmo?
Em segundo lugar, como parte dos que estão
chamando de bandidos e criminosos os PMs por atravessarem ônibus nas ruas,
mostrarem armas em vias públicas, entre outros atos violentos, não são
desinformados ou alienados, muito pelo contrário, são muito bem esclarecidos,
parte militante do PT ou da estrutura partidária, cabe umas perguntas: Irão
chamar os militantes do MST de bandidos e criminosos quando invadirem a sede
das empresas e depredarem laboratórios? Irão chamar os militantes do MST de
invasores de propriedade privada e criminosos quando matarem bois, destruírem
plantações?
Eu
sinceramente espero que não, pois o MST é um dos raros movimentos que se mantém
organizado nas bases, vinculado aos trabalhadores rurais, organizando-os e
formando-os politicamente. E o MST radicaliza suas ações e formas de luta
diante da radicalidade da direita retrógrada ruralista e da incompetência dos
governos em tratar a questão rural com a prioridade que merece.
Voltando à greve da Bahia.
Não sou favorável a destruir o patrimônio
público, incendiar ônibus ou disseminar o pânico como forma de luta em uma
greve. Esses não são os métodos mais apropriados, em especial em uma conjuntura
na qual existem espaços possíveis de luta política e sindical mais amplo e que
permitem articular outros setores da sociedade no embate com o governo.
"Em nome da coerência política e ideológica, e da repercussão
que as ações que fizermos hoje terão nos enfrentamentos futuros com a direita,
não posso, e não consigo admitir que companheiros o façam tratar trabalhadores,
mesmo fardados, como criminosos e bandidos"
No entanto, e sempre cabe um, porém, em nome
da coerência política e ideológica, e da repercussão que as ações que fizermos
hoje terão nos enfrentamentos futuros com a direita, não posso, e não consigo
admitir que companheiros o façam tratar trabalhadores, mesmo fardados, como
criminosos e bandidos, pois no limite isso significa criminalizar uma luta
sindical que é justa nas suas reivindicações e que chegou no limite da
radicalização por incompetência do governo em se relacionar com os
trabalhadores do serviço público, como já se viu nas greves dos professores e
de outras categorias.
Já ouvi alguns dizerem que esses policiais
são truculentos, bandidos, corruptos e que o governo tem que ser duro mesmo com
eles. Ora, se são tudo isso, quem os mantém na ativa? Quem ainda não
implementou políticas voltadas para requalificar a corporação
profissionalmente? Quem é responsável pela política de segurança pública? É o
PM que além da jornada como policial faz outra como bico para aumentar o
salário de fome que ganha e com a autorização velada de seus comandantes?
E para os que gritaram "Desocupa Prisco",
"Fora Prisco", quero dizer que não o conheço, nunca vi e assim
continuará sendo. No entanto é engraçado como o sujeito que algum tempo atrás
era bem quisto por parte do PT, inclusive fazendo campanha para o partido,
agora é demonizado, o novo ACM da Bahia. E cabe ressaltar que esse Prisco, que
o governo diz não ser nem mesmo policial, foi expulso da PM na greve de 2001 e
anistiado por lei sancionada pelo Lula e ainda ganhou na Justiça o direito de
ser reincorporado à PM. E qual o motivo de ainda não ter sido reincorporado? Só
J. Wagner pode responder!
Esse é o método mais odioso de se fazer a
luta política, que visa destruir o sujeito sem a necessidade de responder ao
que defende. É simples: Prisco é tucano, quer ser eleito vereador, mandou
assassinar moradores de rua (ouvi isso sem que fosse apresentada uma única
prova ou indício de veracidade!), ordenou saquear lojas, etc. Difundida a
calúnia, deixa de ser necessário combater suas idéias e o que defende na
condição de dirigente de uma entidade e de uma greve que parou a PM no estado.
Se as calúnias não destruírem a pessoa,
sempre será possível recorrer a uma picareta!
Espero, sinceramente, que os companheiros que
estão contra a greve continuem sendo, mas que pelo menos revejam o método que
estão utilizando para tentar combater um movimento que reivindica as mesmas
questões desde o início do governo J. Wagner e, como outras categorias, ouvem
promessas que nunca se concretizam.
Como já se disse antes, a história nos julgará.
Walter Takemoto é psicólogo e consultor educacional de secretarias de
Educação
Consciência Política PM & BM
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