O
poder não é algo que existe objetivamente, é fruto de uma relação de
consciência. Neste meio existem aqueles que consolidam esta relação
inconscientemente, chamados de “analfabetos políticos” e aqueles que pensam na
mudança, os chamados “conscientes políticos”. Nenhum dos dois poderá mudar a
sociedade com suas ações, mas o segundo poderá com sua consciência.
Um poder, seja ele de qualquer natureza ou exercício, se revela na expressão de um coletivo que atribui a um indivíduo a função de exercer um serviço para este povo. Este é o princípio que norteia a Constituição Federal com a expressão: “Todo poder emana do povo para em seu nome ser exercido”. Portanto esse povo é o seu patrão, que paga inclusive o seu salário por este serviço. Aí se insere a idéia de poder como relação e não como algo natural.Portanto, o poder não existe objetivamente, não pode ser encontrado em algum lugar ou como se fosse um objeto. Ele é fruto de uma relação ideológica entre os indivíduos de uma sociedade.
O poder político,
por exemplo, constituído através de um mandato, existe porque uma parte da
sociedade o atribuiu a alguém. Mas não é o voto que foi escrito em uma cédula
ou registrado em um computador que dará este poder ao político. O voto, através
de uma eleição, é apenas uma simbologia que formaliza as organizações do
sistema de estado convencionado pela sociedade. Se fosse ele (o voto) que de
fato desse poder ao político, era suficiente rasgar as cédulas ou destruir o
computador para interromper o poder. Todavia o poder existe, e agora como algo
concreto, consolidado numa consciência que assumimos que atribuído empodera um
político (ou qualquer outra situação de poder: militar, empresarial, etc.).
Neste caso o presidente é presidente, como os demais políticos são políticos, porque
nós (a sociedade) assumimos a consciência de que eles o são. Portanto é o nosso
pensar, a nossa consciência que constitui o poder de alguém. Isto quer dizer
que somos nós (a sociedade) que decidimos quem tem poder, portanto, decidimos
quem vai ser político, até quando terá mandato político, inclusive quanto
deverão ganhar. Portanto, decidimos a vida dos políticos.
Os interesses da
pequena parcela que domina a sociedade (os políticos) exigem imperiosamente que
ignoremos este postulado e até cheguemos a pensar que o poder é algo natural,
ou seja, quem tem poder tem, porque “já nasceu com a estrela na testa”. Isto
garante a possibilidade de uma relação de injustiça e desigualdade, mas de
forma harmônica, pois, por este pensamento, o poder trata-se de uma providência
divina ou conseqüência da própria natureza. Isto pode explicar a necessidade de
se cultivar o “analfabetismo político” em nossa sociedade. Aquelas pessoas que
não sabem que a garantia de escola, saúde e emprego não são gestos de boa
vontade, são obrigação do governante e direito do povo. Assim como também não
sabem que o preço da sua comida, a possibilidade de seu emprego e o valor do
seu salário dependem das decisões dos políticos. Ainda mais: inverte-se no
contexto social, por conseqüência deste “analfabetismo político”, o verdadeiro
papel dos envolvidos nesse círculo político ideológico. O político que
necessita do voto do eleitor não parece ser quem está pedindo e o eleitor que
dá o voto ao político, não parece ser quem tem para dar. Esta é uma relação que
precisa ser alimentada para ser mantida a lógica do poder ideológico. O maior
castigo para estes que não se interessam por política é que serão governados
por quem se interessa, como já previa Arnold Toynbee.
De qualquer modo é
preciso saber que quem decide a vida dos políticos somos nós mesmos, como somos
nós que fazemos nossa História e que podemos construí-la de acordo com nossos
interesses. Mas isso não pode ser entendido como resultado apenas do fato de
termos votado em alguém. Até porque a História contemporânea nos mostra que
mesmo tendo votado consciente muita pouca coisa ou quase nada mudou. Poderíamos
então dizer que o eleitor consciente não é aquele que apenas vota, mas o que
acompanha o mandato do candidato que se elegeu. Mas a partir daí iniciamos uma
outra questão: Como acompanhar o trabalho dos políticos que votam secretamente
aquelas decisões quando lhes são convenientes o segredo? Isso pode revelar que
a distância que separa o “analfabeto político” do “consciente político” não é
necessariamente o efeito de sua atitude frente a um momento de decisão
política, mas o efeito de uma consciência numa perspectiva Histórica, que
poderá transformar a sociedade, que nem um nem outro conseguirá alcançar
fisicamente, mas as gerações de um futuro, que poderia ser nós, se a do passado
tivesse assim pensado.
Em verdade, todo o
poder emana do povo, muito embora pouco dele em seu nome seja exercido.
Contudo, podemos decidir nossa Historia, fazemos a nossa História, porque se a
política decide nossa vida, nos decidimos à vida da política e consequentemente
dos políticos.
POR GERCINALDO MOURA
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